Picturephone - O primeiro videofone da história!
- Bruno Conceição da Silva
- 20 de set. de 2020
- 4 min de leitura

Hoje em dia, principalmente com a pandemia, percebemos que a comunicação remota é fundamental para manter negócios funcionando e pessoas conectadas. Para uma reunião de trabalho em vídeo, a única coisa que precisamos fazer é ligar a webcam e usar algum aplicativo de videoconferência, seja o Skype, o Zoom, o Meet ou qualquer outro de sua preferência. Quando a saudade "aperta" basta usar o Google Duo, o FaceTime, ou até mesmo uma videochamada via WhatsApp. Mas as coisas nem sempre foram tão fáceis assim. Houve um tempo em que era necessário se deslocar até um prédio da AT&T – hoje conhecida como uma operadora de telefonia móvel – e pagar cerca de US$ 80 (muito dinheiro na época) para usar por 15 minutos um dispositivo estranho que só conseguia exibir imagens em preto e branco e a 30 frames por segundo.

O cenário descrito acima pode parecer surreal para os tempos atuais, mas essa era a realidade dos cidadãos norte-americanos a cinco décadas atrás. Revelado publicamente em 20 de abril de 1964, o aparelho batizado como Bell’s Mod I Picturephone é considerado o primeiro videofone a fazer sucesso comercial e o responsável por incentivar a indústria mundial a investir pesado em pesquisas no segmento de videoconferências.

O produto foi lançado pela AT&T em uma época favorável: ocorria em Nova York a Feira Mundial de 1964 (mais conhecida como Expo 64), o que reunira milhares de turistas. Qualquer pessoa interessada em testar a novidade podia entrar em uma fila interminável para ter a chance de conversar durante dez minutos com um completo estranho posicionado em outro Picturephone, que estava sendo exibido simultaneamente na Disneylândia (Califórnia).
Versão comercial
Em 24 de junho do mesmo ano, a AT&T iniciou seus serviços comerciais com o curioso Picturephone. Além das unidades previamente posicionadas em Nova York, a companhia resolveu distribuir mais aparelhos em Washington e Chicago. Os interessados em usar o gadget precisavam fazer reservas com antecedências e pagar o preço absurdo de US$ 16 por três minutos de conversação. O plano mais comum era o de 15 minutos, que custava US$ 80.
O Picturephone Mod I tinha uma tela monocromática de 13 cm x 12 cm e exigia que seu usuário permanecesse praticamente imóvel para que sua câmera de baixíssima resolução pudesse enquadrar seu rosto com sucesso. Além disso, as conexões eram um instáveis e podiam cair a qualquer momento.
Este primeiro modelo do Picturephone quase não obteve clientes e logo foi tido como um experimento fracassado – o que não impediu a AT&T e outras companhias de telefonia a continuar investindo nesse segmento.

A companhia logo lançou o Picturephone Mod II, uma versão levemente aprimorada de seu aparelho e voltada especialmente para o mercado corporativo. O aparelho tinha um design bem mais atraente, mas o hardware era idêntico ao modelo anterior. Este novo modelo começou a ser vendido diretamente para grandes empresas, em vez de ser distribuído em forma de serviço para a população em geral.
Outro fracasso: estima-se que a AT&T gastou mais de meio bilhão de dólares com o invento entre 1966 e 1973, sem ter retornos satisfatórios.
Provando que desistir é para os fracos, a companhia fez outra tentativa em julho de 1982, lançando o Picturephone Meeting Service (ou Serviço de Reuniões Picturephone, em uma tradução livre). Uma videoconferência de uma hora entre Nova York e Los Angeles custava pelo menos US$ 2,3 mil – caso a companhia quisesse, era possível comprar o equipamento por mais de US$ 117 mil ou alugá-lo por aproximadamente US$ 18 mil, mas novamente não deu certo.

A última tentativa da AT&T foi em janeiro de 1992: o VideoPhone 2500 era compacto e possuía uma pequena tela LCD capaz de exibir imagens em cores, mas custava US$ 1,5 mil em seu lançamento. O preço logo foi reduzido para US$ 1 mil, e o produto posteriormente foi oferecido sob o sistema de locação por US$ 30 a diária. Ao perceber que ninguém se interessaria pelo gadget, a companhia finalmente desistiu do Picturephone.

A companhia que se tornou AT&T começou em 1875, em um acordo entre o inventor Alexander Graham Bell e dois homens, Gardiner Hubbard (Sogro de Graham Bell) e Thomas Sanders, que concordaram em financiar o seu trabalho. Bell estava tentando inventar um telégrafo falante - um telefone. Ele foi bem sucedido e conseguiu registrar as patentes em 1876 e 1877. Em 1877, os três homens formaram a Bell Telephone Company para explorar a invenção. A primeira central telefônica, operando sob a licença da Bell, abriu em New Haven, Connecticut em 1878. Em três anos, centrais telefônicas existiam nas principais cidades dos Estados Unidos, operando sob a licença do que hoje é a American Bell Telephone Company. Em 1882, American Bell adquiriu controle na Western Electric Company, que se tornou a sua fábrica. Gradualmente, a American Bell se tornou dona da maioria dos seus licenciados, e a empresa passou a ser conhecida como Bell System (Sistema Bell).
A American Telephone and Telegraph Company foi fundada em 3 de março de 1885, como um conglomerado de subsidiárias da American Bell, projetada para construir e operar uma rede telefônica de longa distância. Começando de New York, AT&T atingiu seu objetivo inicial ligando Chicago em 1892 e então San Francisco em 1915. Em 30 de dezembro de 1899, AT&T adquiriu os ativos da American Bell e se tornou a proprietária do Bell System (Sistema Bell).
Especialistas afirmam que o problema da AT&T na investida do Picturephone era acreditar que o aparelho era indispensável para a população mundial naquela época e que o problema estava apenas na velocidade, na resolução e em outros aspectos de hardware de seus equipamentos. A verdade é que poucas pessoas estavam (e ainda estão) dispostas a pagar caro por não apenas um, mas dois dispositivos – um para você e outro para quem você quer manter contato – apenas para conversar em vídeo com alguém que está longe.
Tudo mudou com o advento da internet e invenção das webcams, que podem ser embutidas em PCs, notebooks, smartphones e tablets – uma vez que você tenha um aparelho com câmera e acesso à rede, tudo o que você precisa é de um software (geralmente gratuito) para conversar com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo.
Obviamente, se não fossem pelos videofones (que ainda são vendidos e usados para fins específicos, como em portarias), é bem provável que não teríamos as ferramentas de videochamadas nos dias de hoje. Temos que ser gratos pela AT&T – e outras empresas que também perderam dinheiro investindo em rivais para o Picturephone, como a Mitsubishi e a Sony – por ter mostrado para o mundo que conversar por vídeo remotamente é algo útil e indispensável, principalmente nos dias de hoje.